O samba a dois que dançamos hoje nasceu final do século XIX
e início do XX com a construção de vilas operárias no centro do Rio de Janeiro.
Classes com menor poder aquisitivo dessas regiões buscavam formas de lazer no
meio urbano e começaram a surgir então as “gafieiras” (espécie de casa noturna
da época).
Antes mesmo do samba surgir como gênero musical e de
dança, já havia o batuque africano (nome
dado pelos portugueses às danças de origem africana), considerado a raiz do
samba, que era dançando em filas ou rodas acompanhado de palmas. No surgimento
do samba, o batuque africano (lundu e sua umbigada, mais rural ) era misturado
com a polca européia, dando origem a primeira dança de par, o Maxixe, dança
mais urbana, pai do samba de gafieira.
Por ter sua origem ligada a cultura africana, o samba foi
bastante reprimido no seu surgimento. Considerado dança dos pobres, lasciva e
imoral, somente com o passar dos anos, depois de domesticado e adaptado, passou a ser aceito nos salões pelas elites
brasileiras.
Formas de se dançar
Formas de se dançar
Originado da primeira dança a dois urbana, o Maxixe que,
musicalmente, marca um encontro da cultura negra com a europeia, o Samba de Gafieira, como forma de dança a
dois também sofreu influências tanto da dança africana, caracterizada por
movimentos que buscam a terra e a religiosidade do povo negro (o corpo busca o
chão), quanto da dança européia, mais formatada pela corte imperialista e com
movimentos mais sofisticados, oriundos da valsa (corpo busca o ar).
De acordo com Marco Antônio Perna, autor de “Dança de Salão
Brasileira”, sempre existiram formas diferentes de se dançar a mesma dança, e
com o samba não foi diferente. Em 1940 haviam três maneiras de se dançar: o
samba liso, samba batucada e samba canção, que se diferem quanto ao compasso musical,
números de pisadas e características.
Hoje no salão, de acordo com as classificações de Rudolf
Laban, grande pesquisador da dança e autor do “Domínio do Movimento”, livro de
referência que observa as danças quanto ao caráter, repertório e qualidade do
movimento, também podemos observar três
formas consagradas de dançar o nosso samba: Liso ou Clássico, Tradicional e
Funkeado.
Clássico
No clássico ou liso a postura tem um ar mais aristocrático e
sua principal característica é a elegância com alinhamento vertical dos corpos
e ginga mais discreta. É o samba mais adaptado ao Ballet. Musicalmente o
chorinho combina bastante com essa forma. O dançarino mais conhecido a adotar
esse estilo é Valdeci de Souza. No repertório puladinho, picadilho e piões
contínuos, lisos e com tempo de execução maior. Outros dançarinos, mais contemporâneos, representantes dessa forma, são Alexandre Silva e Isis Lucchesi
Tradicional
Já no tradicional a ginga ganha maior importância com maior
ênfase na flexão dos joelhos, postura mais relaxada, não há alinhamento ereto
na vertical e os quadris dos dançarinos ganham maior projeção. Aqui o
repertório que tem maior evidência são as escovinhas e os pica-paus, além de
contribuições do tango como ganchadas,
enfeites de pernas para as damas e posição do tronco. As músicas
características são, em sua maioria, sambas de bandas de baile, cujos instrumentos
de arranjo são sopros e outros metais, inspirados nas antigas big-bands
americanas. Carlos Bolacha é o principal ícone atual desse estilo. Os dançarinos mais atuais desse estilo são: Adriano Robinho e Evelin Malvares
Funkeado:
Samba Funkeado é a forma mais nova de se dançar samba. As
principais características são mudança no tempo de execução dos movimentos,
novas figuras criadas a partir do Tradicional e a interrupção de uma
movimentação na metade para dar lugar a algo novo. Na parte corporal observa-se
encaixes e desencaixes de quadril com variações de pausas e continuidades.
Também dentro de um mesmo passo são explorados planos altos e baixos,
característicos do samba Tradicional porém com pausas e quebras de movimentos
que fazem alusão ao hip hop. Também a parte musical advém da cultura hip hop,
podendo ser lançado tanto ao som do sambalanço, subgênero do samba, quanto ao do R&B (rhythm and blues). O ícone atual
e criador deste modo de se dançar samba é Jimmy de Oliveira.. Há também no cenário atual os alunos do Jimmy que vem disseminando o Funkeado. Dentre os muitos, os mais conhecidos são: Leo Fortes e Robertinha, Wendell Bright e Mary Correia, Rodriguinho Barcelos, Erika Ikuno e Moreno Zanandré, Rogerinho Contratempo e Ayla Contratempo
A arte dança também é cíclica
A arte dança também é cíclica
Observadores com noções de história da arte sabem que ela
está sempre em movimento, e estes são, muitas vezes, cíclicos no que diz
respeito às tradições e contemporaneidades. Ou seja, quando nosso samba chegou
ao estilo Funkeado, que é o ápice no que diz respeito à modernidade, muitos
sentiram a necessidade de voltar à raiz, dando força ao modo de se dançar
Tradicional. Atualmente estamos em uma fase de busca das raízes. Por este
motivo o samba Tradicional é o mais seguido e dançado atualmente nos salões brasileiros.
Fontes de pesquisa do resumo acima:
Livros: Dança de Salão Brasileira, de Marco Antônio Perna
Artigo “ O samba de gafieira e seus sotaques”, de Cristóvão Crhistianis, do livro Tango & SambaArtigo: "História da Dança a Dois", de Ítalo Rodrigues Faria, da Arte Revista, 2013
Prof Silvia Caseiro
Canal no Youtube: Silvia Caseiro Dançarina
Página no Facebook: Facebook.com/silviacaseirodanca